Resenha: O Menino que Desenhava Monstros


Estão prontos para observar o fantástico mundo de Jack Peter e seus monstros?

Sinopse: Jack Peter é um garoto de 10 anos que tem síndrome de Asperger (é um dos espectros do autismo) e que, desde que quase se afogou aos sete anos tem fobia do lado de fora: deixou de ir a escola, não brinca mais lá fora, e sempre que precisa ir ao médico o pai precisa envolve-lo completamente em um cobertor e lutar para conseguir leva-lo até o carro. Jack Peter tem apenas um amigo, Nick, que sempre vai visita-lo para poderem brincar, e a nova obsessão de Jack Peter são monstros.

Quando eu li a sinopse, já fiquei muito curiosa para conhecer a historia, pra quem não sabe a síndrome de Asperger é um transtorno de desenvolvimento que afeta a capacidade de se socializar e de se comunicar com eficiência. Pessoas com essa condição podem ser desajeitadas em interações sociais e ter interesse em saber tudo sobre tópicos específicos. E foi isso que me fez se interessar pela história, eu queria saber mais sobre o personagem, seus problemas e como a família lidaria com isso, mas o livro é MUITO mais do que imaginei.

Frio, desbotado, sem cor, sem vida. É assim que podemos descrever as cores dos cenários do livro O Menino que Desenhava Monstros. Cercado por memórias vibrantes, coloridas, porém obscuras, o livro conta a história de um menino que tem problemas para lidar com o mundo ao seu redor. O pequeno Jack Peter nunca sai de casa e, se você for fazê-lo uma visita, o encontrará sempre com um lápis e papéis na mão. Isso porque JP adora desenhar. E o seu mais novo fascínio são monstros.

Tudo começa com um soco dado por Jack Peter a sua mãe, depois dela o ter chamado para levantar e o menino ter acordado sobressaltado e nervoso. É inverno, e a casa estala e geme, e tudo parece ganhar vida conforme você avança na leitura do livro. Com momentos assustadores sutis e delicados, a autora o faz prender a respiração em certas partes do livro, em uma leitura sufocante, para logo depois o acalmar com acontecimentos rotineiros, como se aquilo fosse tão banal como qualquer outra coisa. Os fatos se desenrolam de modo devagar e o que pude sentir foi um final rápido, com vários acontecimentos se desenrolando um acima do outro, como se a autora se apressasse para terminar o livro. Senti que 252 páginas não foram o suficiente, já que algumas perguntas não foram respondidas.
A autora trabalhou muito na personalidade de cada personagem, principalmente dos pais de JP. Holly, mãe de Jack Peter, a quem vale maior destaque nesta parte, foi a que mais me comoveu e, acredito eu - como mãe também, a que mais sofreu nesta história. Ter um filho recluso, que não gosta de brincar com outras crianças, odeia sair de casa e vive fechado para si a maior parte do tempo, não é uma tarefa das mais fáceis. Holly sentia a necessidade de ter seu filho em seus braços novamente, a necessidade de ser a mãe que acolhe, que protege, que afaga. Inúmeras vezes na história você lerá o quanto ela aspira por seu filho de volta, o antigo e mais novo JP, o doce Jip. Holly sabe que seu filho está piorando e ficando cada vez mais desesperado e não descansa nem um segundo para tentar salvá-lo. Seu instinto materno o diz que há algo de errado e, meus caros leitores, eu lhes digo: ela sempre esteve certa.

“Se eu pudesse fugir, pensou, eu fugiria. Se pudesse, atravessaria o oceano a nado, sem parar até chegar à outra margem. (...) E ainda que meus pais fossem sentir minha falta e que meus amigos ficassem sabendo que eu estava longe, eles acabariam se esquecendo de mim, e eu encontraria outras pessoas. E eu cortaria os laços. Eu me livraria dele para sempre.”


Apesar da trama ser bem curiosa e cheia de armadilhas para confundir o leitor e o fazer se perder em suas teorias, a história chega em um momento que se arrasta. Tantas vezes eu me peguei suspirando na leitura, não de alegria, mas de cansaço. A maneira como o autor teclou sempre na mesma tecla, falando sobre os mesmos sentimentos, as mesmas coisas, me deixou cansada. Sempre era Holly triste com seu filho e Tim com seus devaneios. As únicas partes que me deixavam curiosa eram as de Jack Peter (que, às vezes, também se mostravam sem graça) e as de Nick que, para mim, sempre eram as interessantes. Há partes que também foram desnecessárias, parágrafos que, se retirados do livro, não fariam diferença alguma.

O livro também se prende muito ao passado, constantemente voltando lembranças, algumas sendo chaves para partes importantes no livro. O que realmente me decepcionou, foi a maneira rápida e rasa que o autor terminou o livro, colocando apenas aquele final como abertura para um novo começo.

Comentando um pouco sobre os monstros que Jack Peter desenhava, não fugi muito da minha teoria sobre o que eles realmente significavam. Parece que JP desenhava não seus monstros, não monstros como demônios ou algo do tipo. Mas os monstros de outras pessoas, seus medos, suas inseguranças, seus erros mais sombrios. Ele traz à tona seus monstros interiores, aquilo que os deixava ou já deixou loucos algum dia. Isso foi muito interessante para mim, porque não era qualquer monstro, era como se Jip soubesse exatamente como assustar alguém, mexendo com seu psicológico através dos próprios demônios de outras pessoas. Posso ter em algum momento interpretado de maneira errada, porém essa foi a única conclusão que cheguei.

Algumas coisas ficaram em névoa para mim, mesmo depois de ter terminado a leitura do livro. Alguns porquês continuaram e, só depois de pensar um pouquinho foi que consegui chegar a alguma conclusão plausível. O livro foi escrito por Keith Donohue e publicado pela editora Darkside Books, o livro conta com 252 páginas de mistérios, suspense e enigmas que deixarão você confuso. Com uma edição impecável, o livro tem, em seu título na capa, auto relevo que o leva a sensação de que foi escrito a lápis ou a giz de cera. As ilustrações logo no começo do livro são de grande destaque, porque mostram a frieza que o livro quis passar do começo ao fim. Logo no final, existe um espaço para você interagir com o livro, um espaço onde, em cada parte específica, você pode desenhar seus monstros, medos, sonhos, lembranças, criaturas, pesadelos, angústias. Achei bastante interessante, mas não tenho certeza de que quero estragar esse livro maravilhoso com meus desenhos horrorosos. As artes nos capítulos são simples e delicadas e o fazem ficar à vontade lendo.

E você, já leu?
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Beijos, JR.

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