Crítica: Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)


Eu falo com toda certeza do mundo de que esse filme, vai valer cada centavo do seu salário suado (ou mesada) e cada segundo do seu tempo. Mas Jack, porquê está dizendo isso?

Baby Driver (gosto de chamar assim porque o título em português é uma das piores escolhas possíveis) arrancou vários “minha nossa” durante todo tempo em que assisti. Também soltei alguns “Caramba, não é possível!”, “Não vai ter corte?”, “O-lha-es-sa-ce-na-aí!”, etc. Peço desculpas a você mãe, se fui uma chata ao assistir!!

O ritmo do filme é criado não somente pelas obrigatórias (e fantásticas) sequências de perseguição, ele trás um ritmo contagiante que o personagem de Ansel Elgort (Baby) demonstra em sua empolgação dançante, cantando ao som da Jon Spencer Blues Explosion durante a primeira cena do longa.

O filme flui como a música. Uma acorde, um bater de porta, uma batucada na lateral do carro, um plano-sequência incrível: você está fisgado. Não existe corte brusco, a cena anterior prepara para a próxima e assim você segue assistindo, ouvindo, antecipando como vai ser surpreendido no momento a seguir. As transições fluidas usam objetos e recursos diversos, a câmera vai, volta, e estamos em outro lugar — sem nem piscar os olhos.


Todos estes elementos já são comuns em diversos trabalhos que tentam criar uma roupagem cool para cativar adolescentes. No entanto, um elemento diferencia Baby Driver de qualquer outra obra que tente criar esse mesmo tipo de ambiente. Tal elemento diferencial se chama Edgar Wright.



No aspecto trilha sonora, pode-se dizer que Tarantino encontra em Wright um “rival” à altura no quesito de escolha de um soundtrack matador. A música assume um papel narrativo importantíssimo, quase como o que vimos recentemente no blockbuster Guardiões da Galáxia Vol. 2. A adesão de um pano de fundo que justifique o constante uso de fones de ouvidos não é de muito apreço pessoal, por tirar um pouco da graça de se ver um personagem cool apenas por ser cool, mas realmente não dá para discordar da qualidade na intenção de Wright em humanizar Baby, nunca deixando-o de lado em seu texto, apesar de parecer substancialmente e talvez excessivamente surrealista.

Some a isso o fato de que suas canções, além de fazerem parte de modo externo e diegético do filme, servem como elementos de brincadeira para o diretor, quando este utiliza as suas batidas em ritmo paralelo ao som dos tiros disparados pelos personagens em certos momentos.



Resta falar da química entre seu grupo de personagens, que traz um Kevin Spacey destilando ironia com apenas 10% da crueldade de Frank Underwood (o momento em que ele reconhece uma referência de Monstros S.A. define bem), Jon Hamm deixando de lado qualquer traço da classe de seu Don Draper quando vemos seu personagem evoluir de bad nice guy para crazy motherfucker e a presença um tanto irritante e caricata de Jamie Foxx como o real antagonista do mocinho Baby.


O segundo ato desacelera um pouco o filme, focando na construção do relacionamento entre Baby e Deborah (Lily James). Contudo, é inegável a ótima condução harmônica de Edgar que novamente alia a trilha sonora a performances corporais bem coreografadas. A química entre os dois personagens é estabelecida logo na cena da lavanderia e, apesar de rápida, funciona perfeitamente.

O cineasta ainda guarda bons momentos relacionados a Baby e seu pai adotivo surdo Joe (CJ Jones). Por outro lado, o terceiro ato parte para uma visceralidade abrupta, próxima, em suas devidas proporções, de algo que Quentin Tarantino faria.



Um dos filmes mais pé no chão do cineasta Edgar Wright, prova-se ainda assim como um de seus mais sensacionais longas. A mente do cineasta torna tudo mais fluido e interessante, sem que seu argumento, não tão fenomenal quanto sua direção, impeça o sucesso da obra. Simplesmente este é um dos filmes mais divertidos e originais do ano, em toda a sua informalidade. Um espetacular musical de ação.
Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) — EUA/Reino Unido, 2017
Direção: Edgar Wright
Roteiro: Edgar Wright
Elenco: Ansel Elgort, Kevin Spacey, Lily James, Eiza González, Jon Hamm, Jamie Foxx, Jon Bernthal, Flea, Lanny Joon, CJ Jones
Duração: 113 min.
Trilha Sonora:


Beijos, JR.

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