A realidade pode ser mais estranha do que a ficção - Black Mirror


A antologia Black Mirror criada por Charlie Brooker te faz questionar o quanto da tecnologia presente é real, já que questões como essa surgem a cada dia e se torna mais popular e vem problematizando as consequências da evolução sombria no nosso dia a dia, a série te faz ficar refletindo por horas depois de assistir aos episódios, pois eles retratam todas as -MUITO- possíveis consequências que esse futuro tecnológico nos apresenta. É uma espécie de terror psicológico. O único monstro é a tecnologia e tudo que a envolve, e sabe porque? Porque isso já é comum demais.

Comum, porque vivemos em um mundo onde a vida de aparências é o que define a personalidade e popularidade de uma pessoa. Num tempo em que Hollywood está escalando atores baseada na popularidade dos artistas nas redes sociais. Estamos nas mãos de conglomerados de mídia e meia dúzia de gigantes de tecnologia e achamos isso o máximo. Hoje, 85% dos investimentos em publicidade estão concentrados entre poucos, como Google e Facebook e tudo isso é um tecnopólio, como diria Neil Postman.

Sabe aquele ditado: ".. a grama do vizinho sempre parece mais verde.."? Black Mirror mira exatamente na maneira como nos relacionamos nas Redes Sociais. Aonde se você ganhar um biscoito ruim, uma roupa feia, ou receber qualquer coisa que deteste – ainda assim - precisa dizer que AMOU, pois se disser o contrário, você simplesmente cai no ranking dos mais queridos e se torna impopular.

O episódio Nosedive mostra a questão da grama verde do vizinho, dos mundos felizes em Instagram e Facebook, das fotos lindas que parecem naturais mas foram milimetricamente posadas, muitas vezes tiradas em contextos de tristeza ou briga, mas que na tela, aos olhos dos outros, exibiam um cenário perfeito e invejável.

Protagonizado por Bryce Dallas, o episódio diz respeito a um mundo imerso em uma rede social, com tons pasteis e pessoas muito educadas e falsas apenas para serem bem avaliadas, com sorrisos e posturas que só existem para garantir de todos ao seu redor uma avaliação positiva, por meio de um aplicativo que é freneticamente usado por todas as pessoas, o tempo todo.

O uso do aplicativo é tão frequente que podemos vê-lo como “a tecnologia como extensão do homem”, que amplia o “os meios de comunicação como extensão do homem”, definido por Marshal McLuhan há tantos anos.

No aplicativo, imediatamente ao cruzar com alguém ou após interagirem de alguma forma, pagando ou não por um serviço, você avalia e é avaliado, o tempo todo.


Aliás, o Netflix lançou esse aplicativo como uma brincadeira! É o Rate me https://rateme.social/ (um trocadilho incrível sobre hate – ódio e de rating – classificação).

Nada muito diferente do que vemos hoje, não é? Afinal, você sabia que o papo com os mortos digitais já é uma realidade? Em Black Mirror, uma mulher que acabou de perder o marido em um acidente de carro tenta lidar com a saudade usando a tecnologia. No início, ela usa um chatbot – uma inteligência artificial que consegue conversar com você a partir de um banco de dados, e que vai aprendendo conforme a conversa vai avançando.

Isso já existe, inclusive para conversar com os mortos: no ano passado, uma engenheira russa chamada Eugenia Kuyda criou um aplicativo chamado Luka, idêntico ao serviço da série. Para isso, a estratégia foi a mesma: Eugenia usou as mensagens e posts das redes sociais de um amigo morto, Roman Mazurenko, para criar um banco de dados a partir do qual a inteligência artificial se alimenta para bater papo com qualquer pessoa. Agora, você pode “conversar” com Roman baixando o aplicativo.

Imagine se os seus olhos pudessem filmar, fotografar, passar filmes só para você, mostrar informações sobre as pessoas ao seu redor, analisar o ambiente e, de quebra, transformar a realidade em jogo. Em Black Mirror, as pessoas têm implantes cerebrais que mudam a realidade exatamente desse jeito – e na vida real não estamos tão distantes disso. A Samsung registrou, em 2016, uma patente para a produção de lentes com microcâmeras integradas e conexão wi-fi, que seriam controladas a partir do seu smartphone e que possibilitariam uma experiência de realidade aumentada online, idêntica à da série. Já o Google foi mais fundo (literalmente) e prometeu um chip injetável para os olhos humanos, com as mesmas funções das lentes da Samsung. 

Os seis novos episódios da 4ª temporada continuam pesados e cutucando feridas, mas dessa vez a gente consegue sentir melhor esse peso e as feridas são nossas. Essa coisa de SUPER PROTEÇÃO de pais e mães, a mania insuportável de ficar olhando o tempo todo pro celular esperando notificação de rede social ou de WhatsApp ou do que quer que seja, o tanto de informação a que a gente é exposto e, principalmente, privacidade são os principais temas tratados no episódio que parece que é mais um retrato da sociedade em que já vivemos do que da sociedade que poderíamos viver um dia.

Sempre foi assim, em todas as temporadas, mas pelo menos nas duas primeiras a gente sentia o desgraçamento mental crescendo a cada hora passada na frente da TV. A terceira deu uma EQUALIZADA nesse sentido, mas essa quarta é quase tão normal em relação ao que estamos vivendo nesse momento que, de fato, não importa a ordem.

A quarta temporada de Black Mirror, enfim, não choca tanto com seus temas mas faz algo muito mais poderoso: consegue chocar pela proximidade das coisas. Se a ideia da série, apesar de San Junipero e Hang the DJ, nunca foi ser otimista, ela atingiu seu auge de pessimismo graças à realidade. O mundo em que vivemos é Black Mirror DEMAIS.


As redes sociais nos trouxeram o contato constante com tudo que há de bom e de ruim no mundo. Ame ou odeie, mas Black Mirror é uma série como poucas. Ninguém sai inerte de seus episódios, e mesmo quando a série não faz lá sua melhor temporada, ainda consegue promover debates importantes para nossos tempos.

Escreva nos comentários qual o seu motivo para gostar da série “Black Mirror”.

Beijos, JR!

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